03 agosto 2006

Primeiro Ato - de quando elas são des-(n)ud-adas

Coro - Não riam, nem chorem. Ela é mais uma figura que se encontra na esquina.
Apresentação:
O sorriso que chora. O sorriso dela esconde melancolia. Esse cabelo com sebo forçosamente puxado para a esquerda e dividido ao meio, corta o coro cabeludo e fragmenta sua personalidade como a onda que se forma dessa irrealidade capilar: que topete terrível, vejo os lábios do coringa, tão forçados como plástica sem cirurgia. Quando em tudo há graça, percebe-se que o sorriso exagerado precisa carência e ingenuidade. A ironia e o humor são requinte, o que lhe falta. Sapientia, não se nasce com, bebe-se dela quando se vive além do corpo, a procura de viva-memória, de conhecer e ter além do prazer. Ela, contudo, coitada, é só coito, vive do estímulo imediato, por isso efêmero, em tudo. Se quer sexo, é nada mais do que ejaculação. Se deseja o prazer, compra um sapato. Ser quer comer, pede uma coxinha de galinha encharcada de gordura. Se quer uma cerveja, bebe numa talagada, e limpa os “beiços” com a barra da camisa – ou com a toalha; aproveitar a embriaguez é um luxo, o alcóol desliza por sua espinha, causa um incômodo e excitante calfrio, e pronto, foi. E assim ela segue só-riso de desespero-desamparo-delinquência.

02 agosto 2006