29 novembro 2010

Você é o que eu odeio!

Queremos calar
o mudo.
Queremos cegar
o cego.
Queremos deixar
o abandonado.
Queremos apagar
o invisível.
Queremos estuprar
a mácula.
Queremos fingir
Sem máscara.
Queremos banir
o exilado.

Queremos acabar com a vida
Do morto.

Meu nome é Bill
Não tenho sobrenome,
E você deve saber a razão...
Ou deveria.
Minha mãe é minha santinha.
Meu pai, o meu trabalho.
Meus irmãos, os meus amigos
(os poucos que restam).
Se eu tenho religião?
Posso até ter,
Mas meu Deus é o meu trabalho:
Com ele eu como e bebo água.
Até sobra uma merreca pra cerveja.
Escuto funk,
Rap e pagode.
Prefiro rap.
Sou eu.

Mesmo sem sobrenome,
Queremos que o Bill
Perca o único nome.

Fácil, não?
Vai ser enterrado
- se for
Como um cachorro sarnento.

Queremos o enterro
Do indigente.

Ué, mas ele já não está morto?
Não, idiota, to falando do outro,
Aquele ali sem camisa
Pretinho
Pobre...

Morra!

06 novembro 2010

Mudança de tema

Às vezes somos muito repetitivos
Me cansei.

30 anos.
quem diria?
Ainda pequeno, costumava dizer a minha avó:
em 2000 vou ter 20 anos. E ela sorria.
Passaram-se 10 anos já:
2010.

Tenho foices nas pernas
Martelos nos braços
Coletes à prova de balas no peito

E na cabeça?
Nada.
Sinto-me leve
disposto
vivo,
muito vivo.

Uma dia me ofereci um chapéu de muletas
bengalas
shots de tequila
limão e sal.

Continuo sem nada
Franco.

Chuva

Hoje está chovendo. Um sábado, quieto, em casa, lendo, despretensioso; vendo filmes; escrevendo; a chuva virou companheira, afetuosa e compreensiva, capaz de absorver o passado, o futuro, e dialeticamente transformá-los em presente - um presente físico ou temporal.

Chuva.

Estranho lúcido olhar

Olhei em seus olhos
e nada vi.
Procurei, vasculhei
tentei, tramei
roubei, bebi.
Você não estava mais.
Poderia estar.

Encontrei
estava sem dor
não tremia
respirava
sorria
dançava
conversava
lúcida

Uma lucidez estranha
amarga
anestesiada
cansada
e resignada

Chorei
sem poder vê-la
sem olhos.