25 maio 2010

Conto gotas mastigo sombras

Vou contando
Inspiro
Expiro
Inspiro
Expiro
...
...
...
Quando os números se perdem
O ar já se foi
e está tudo negro...
Neste lado obscuro
Penumbra e sombra
Vejo os dias erguendo muros
Um a cada hora
e as lembranças se isolam
Uma e outra
O garoto serelepe
O menino falante
A criança alegre
O moleque curioso
O baixinho atarracado
O miúdo afetuoso
Elas se deixam
em farpas cravadas entre as unhas
Uma gota escorre
Outra
...
...
...

O sangue muda de tom
escurece
ganha densidade,
arranca as farpas,
coagula o tempo ,
demole as paredes
e se vai em cálice:

Bebo ar
mastigo sombras.

10 maio 2010

A carne animal

Olhos nos olhos
Lábios nos lábios
Corpo que age
Razão que reage
O corpo vence
A razão sucumbe
A carne faminta engole o beijo
Transforma-o em alimento
Sacia o desejo
E dorme.

05 maio 2010

O conteúdo

O que tem dentro da garrafa?
"Para saber,
Basta abri-la".

Não quero vê-la sem tampa.
Pelo menos por enquanto,
Eu acho.

É necessário saber o conteúdo?
Por quê?

Vou abri-la.
Não, não vou.

“Deixe-a fechada.
Fechadinha”.

A garrafa não é totalmente
Transparente.
Vejo a imagem do conteúdo.

Pus os óculos.
Comprei uma lente.
Fiz uma luneta.
Nada.

Ainda existe a garrafa.
O vidro entre mim e o conteúdo.
Posso abri-la ou quebrá-la.

?
Uma pontuação insistente.

04 maio 2010

A lâmina

Recebi um bisturi
de mãos alheias

Cravei a lâmina no tórax
Rasguei a pele
Quebrei os ossos
Até o meio do peito

Com as mãos
Abri a caixa torácica

Talhei outro nome
Em minhas artérias
E mudei a forma de meu coração

Cheguei até os pulmões
E bloqueei a entrada
A saída
E a presença do ar
Fosse carbono
Fosse oxigênio

O bisturi
O bisturi
O bisturi
O bisturi
O bisturi
O bisturi
O bisturi

As imagens
Turvas
Os olhos pularam
A garganta trincada
O sangue explodindo na cabeça
Saindo pelos poros

O bisturi
O bisturi
O bisturi
O bisturi

Eu aceitei
Não me obrigaram
Mas não é meu
Não sou eu.

Por isso,
Vou respirar.