19 agosto 2007

Gigi

Entre Baudelaire, Verlanie e Mallarmé
Símbolo que só se encontra na pureza inalcançável das essências
Entre os sentidos, atrelo-me às tuas primazias através dos olhos
Vejo-te entre tantos, encontro-te no nebuloso tumulto das cidades
O formigueiro de gente, de gentes, só te encontro porque és a materialização
do perfume eterno do prazer, do ser...
É no azul, cinza, verde dos olhos que gracejas entre aquelas que se dizem belas
Mas beleza é um estado de espírito perceptível somente pelo encontro entre almas
Não uma linha perfeita desenhada no corpo feminino
Do corpo, mera existência física, o tempo se nutre, até em nada construí-lo
E é neste instante que seu afago se insinua, sensual, sem materialidade,
mesmo em vida, mesmo sem o tempo ter-te chegado a tocar, pois és senhora do tempo, vem antes dele.
Nada de platonismo, nada de essência, nada de idealização:
Humanidade rara é sinônimo de estranhamento,
portanto que sejas diferente, que sejas tu a artífice do novo existir entre a harmonia...

(...)

Lembre-se: Vinícius é um estado de espírito
capaz de ser incorporado, não muitas vezes, mas nos dias exatos.
Poesia é um nome, Vinícius sua essência.
Que assim se viva.

12 agosto 2007

Relembranças

Vivo no espaço tênue da tentativa
Pareço-me um ingênuo quando lembro
dos desejos, dos encantos, das lamúrias
Parecem-me encontros que não são,
Quando tempo tem?

Se os versos têm, sinto não ter a ventura
de poder, de querer sem ter uma voz,
que impele o homem para dentro de si
incapaz de romper
Sois um idiota.

Dizem que temo os outros em troca do viver
Prefiro aterrorizar-me diante da simplicidade
Tenho prazer pelo desprazer
Portanto não saberia viver

Os versos me tornam um amante do anacronismo
Um antiquado homem ingênuo cercado pela realidade
Mas ela me torceu o caráter
Desfez minha personalidade em tom de amargura
Uma pedra no centro do caminho
agora é minha disposição impenetrável de ser
Meu tempo não é quando, nem sempre, nem hoje

é antes uma espera
ora dolorosa, ora pacífica
ora suave, ora terrível
um tempo sem tempo
mais parece estar retrocedendo

Organismo que lamenta, que chora
mas que reconhece a existência de uma voz
sabe-se lá em que canto, em que tempo, em que cidade

Digo: não sei se reconheço, apenas percebo que já ouvi
mas era doce, humana, sensual, cativante, a mais deliciosa das melodias

Digo: hoje não existe.
Termino: a felicidade está no sofrimento do sempre presente
que no canto escuro do bar elevará uma simples voz ao veludo dos deuses.