16 junho 2011

Pois bem, pois será.

Arrancou os botões
Rasgou a camisa
Cortou o linho da calça
Lançou no azul os sapatos

Caminho aberto
Errou
Andou pela noite
Nas curvas da sombra
Chegou ao precipício do horizonte
Onde nuvens
Quando raios
Entre vezes
No som das rajadas do grito
Que assola a falta de melodia
Abafa a música que nunca foi

Nudez que não disfarça
Nudez que desvela
Nudez que é novelo
Aos poucos desmascara o que deveria.

Sem camisa,
sem caráter,
sem princípios,
sem frescura:
nu.

Quando nu,
se viu, pois.
O carro andava sozinho nos dias amontoados, empilhados, um a um, formando outro, grande, disforme, pela vontade do tempo, que aglomera cada instante. Um trânsito entre pontos nenhuns, até onde não se sabe, de onde não se veio. Agora, antes, depois, tudo se vai ao longe, transparente, emudece, arrasta os sons, como um grito no vácuo da saudade. Clausura insossa, de onde se fica, de onde não se sai.

Carro de dentro; carros de fora.

Nenhum carro.

Enquanto a fantasia se aliena
vira-se uma cadeira de balanço
e uma bengala de cristal
Come-se um morango
E chupam-se os dedos
Com o caldo saboroso
e uns restinhos de pele
e cacos e sangue.

Strawberry fields forever.

Vai-se o cheiro do passado
no sabor cítrico da saudade.

Come-se um último morango.