23 setembro 2011

Loucos

Ajoelhado, chorava aos pés dela.
Sem pudor, sussurrava: eu te amo, eu te amo, eu te amo.
Ela era a personificação da indiferença:
Sem uma lágrima
Seca feito sertão
Gretada pelo sol
fria em tanto calor.

Continuei, quase sangrando lágrimas dos joelhos,
Enquanto ela ria
Sarcástica como um capataz.
Abandonou a distância
Torceu os olhos
E acertou uma bofetada certeira, em cheio, estalada
Dizendo com os olhos:
Você é ridículo.
A boca emudecida como monges.
Dito – e não dito
Virou-se e sumiu.

(Teve três filhos
Um marido
Envelheceu
Família
Morreu)

Eu? Bem, eu
Fui até a última estação dos dias.
Em nós não deixei suor para secar
Nem ferida para curar
Nem sol para esfriar
Nem filho para criar
Menos ainda pais para ver morrer.
Os trilhos de minhas pernas
Deslizaram em cada vagão de sua pele
Quando, no fim, chegaram à porta
De onde caíram...

Quando ela foi
Abandonei o dia
Até vomitá-lo na noite
E comê-los juntos na madrugada.
Engoli o tempo
Sem mastigação.
Acreditei na dor
Como conselho paterno
Casei-me com ela
Na igreja corpórea
Quase nuclear
Em ato sagrado e crente
Sem medo.
Fui até onde o corpo suportava roer-se
E ruiu
Despencou
Desmoronei sem melodrama
Nas estradas como carona
Nos becos úmidos e cheios de limo dormia
E me deitava nas esquinas das largas avenidas
Vendo os carros passarem
Como um passado que se arrebenta em pedaços.

Comi minhas camisas
Bebi cada calça, sapato e meia.
De desjejum foram meus tênis e gaiolas
Junto dos pneus de meus carros
Devorei a lataria, as cores, os vidros.
Queimei minha raiva mastigando
Futilidades.

Nu, andei
Andei sem parar.

Despido de mim
Na lavanderia
- Todos me vendo, e rindo
Estava em paz
(um pouco sujo)
(descabelado)
(dolorido)
Surdo para eles
Esperei sentado, a última luz apagar,
E minhas roupas novas estavam limpas, secas e passadas.

Vesti seus olhos de camisa
Sua pele de calças
O castanho de olhos e de cabelos como sandália.

- Camisa branca (básica)
- Calça jeans (básica)
- Sandálias de couro

Com você,
Saímos de mãos dadas.

4 comentários:

Iguimarães disse...

Essa sua fase "hernêtica" tá me saindo bem criativa,nem te perguntei mas aposto que está escrevendo bastante coisa e mudando algumas outras.
Acabei tendo uma idéia para depois a gente bolar com calma hehe

G.Barud disse...

Muito boa meu irmão! Eu achei genial, uma das melhores que eu já li sua! Acho fascinante, você escreve exatamente como você fala, sem perder o toque da poesia. Continue mandando mais sempre, sempre estou aqui lendo, com certeza!
Ah, e não esqueça de visitar meu blog também, to voltando a escrever e vou voltar a postar novas poesias lá também!
www.dicheterruderer.blogspot.com

Caroline Tavares disse...

Também gostei!!!

"Queimei minha raiva mastigando
Futilidades." A minha eu resolvo escrevendo.

Beijo

Gisele Pinheiro disse...

Muito lindo!!!!
Parabéns Fred =)