20 setembro 2011

Quem não é seria.

Apreensão. Angústia. Temor. O que vai ser do reencontro? O coração bate, acelera, rápido, mais rápido, feroz só por imaginá-la. Minutos antes de revê-la, o tempo parou: caminhei, e nada se movia, só eu respirava - e ouvia o pulmão arfar. Nada mais importava, tudo se transformava nos seus olhos em minha direção. Enfim, ouvi o portão se abrir - uma volta, duas, três: suas costas, cobertas pelo vestido branco e liso desenhando seu corpo, serpenteavam pela fresta.

Onde estariam seus olhos? Lentamente o pescoço caminhava - um, dois olhos, seu olhar em tons cinza na graça do sorriso leve, descontraído e pleno ao enxergar nosso tempo lento no brilho do castanho escuro dos meus olhos.

Não dissemos nada, mas nossos olhos berraram em silêncio: eu te amo.

Era assim que me via e me sentia quando voce existia. Saudade era uma dor masoquista que aprendemos a cultivar pelo prazer desconsertante de cada único momento que produzíamos juntos. Estar distante celebrava nossa fusão: deitado, antes do sono, pensar em nós provocava aquela lágrima no canto do olho, que parte errante pelo rosto e despenca no sonho profundo de nossa consagração. Acordar deixa de ser uma atividade autômata e passa a ser a realização do desejo da eternidade. Morrer de saudade é viver um motivo: você.

2 comentários:

G.L. disse...

"Aquilo que não é, seria
E mesmo não sendo, é
O pensamento batendo na minha porta
E voando pela janela
É a singularidade de um momento
Retroalimentando o "ser ou não ser"
Seria, porque é a pergunta
Embebedada pelas memórias vertiginosas
O destino gentil,
Nos abraça a cada minuto na passeata
E o andarilho comprimido apenas vai
Mas sonha, e por isso seria.
O vento lhe beija os olhos
Que brilham ao se deliciar com o irreal
E cantam uma saudade não vivida,
A situação perdida, o nó.
E se fosse?
Resta apenas a máquina rotineira
Engolindo, vomitando e nos engolindo mais uma vez
Restam-me vistas jovens e cansadas
Observando o demais além do mais.
Hoje só quero que o tempo brinque comigo na relva
E que me leve..
Cheiro de terra molhada,
Risada de criança feliz. E você.
A rima é o detalhe nos vitrais escondidos em nós.
Apenas respire..."

Gisele Pinheiro disse...

UM DOS POEMAS MAIS EMOCIONANTES QUE EU JÁ LI!QUASE CHOREI...