18 julho 2006

A clínica fica em Rio de Dentro. Aqui os médicos me vêm sempre com esses xaropes coloridos, de hora em hora, para evitar crises nervosas. Me dizem que estou praticamente curado, bastam algumas semanas que as doses dos remédios serão diminuídas, até não precisar de nada. Mal sei como escrevo isso, não entendo nada do que me falam, vivo um tempo ausente. Meu corpo sangra pelos poros como se fosse suor, contraído me causa enxaquecas que turvam meus olhos... Também não sei como tenho noção de minhas reações, meu tempo é nunca. Vejo todos andando sem rumo, de um lado a outro, olhos vidrados nas paredes brancas do refeitório central. Alguns se aproximam de mim, percebo que os lábios se movem, mas tudo que dizem é som sem significado, me tornam mais distante ainda. Aliás, nem sei, creio que me aproximam da realidade, mas meu corpo rejeita tudo, seja o doce, seja o mal. Vivo neste meio sem existir. Vagando torpe me descubro nu, enquanto todos estão de branco, me vejo sentado agarrado aos joelhos, movendo-me como uma cadeira de balanço. Os médicos querem me levar, parece que tive uma recaída, mas não, eu não melhorei, estou no limbo. Se me faz bem, já nem sei, se me faz mal, tenho lá minhas dúvidas, acontece que Miles e Coltrane me contaram suas experiências e eu nem mesmo sorri para eles. Agora me sinto mal, rejeitei meus ícones, como se fossem lixo-jazz. Subo as paredes do refeitório rasgando meus dedos, há marcas de sangue por todo o salão. Ninguém consegue me alcançar. Não vivo o mesmo tempo de todos, vivo um tempo distante, ausente do espaço e do próprio tempo. Longe de mim nada se move, nada é sentido. Só sei que os remédios não estão funcionando. Curioso, porque sinto dor e paz na mesma idade, vago entre o certo e o incerto num flash. Me diluo em minhas fantasias e medos, e os médicos sequer vislumbram esse ritmo. Não quero mais remédios, tenho que sair daqui!

Um comentário:

Anônimo disse...

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!