18 julho 2010

A experiência da experiência

Ontem, conheci um menino. Ele gosta tanto de falar, que perde a voz, o ar e as palavras vem pela metade, atrofiadas, emaranhadas. Ele tem sonhos, mas nao sabe quais. Ele sabe que tem sonhos. Vive. Queria jogar futebol, mas nao pode. Queria correr, mas nao pode. Ele ainda nao sabe, mas gostara de escrever, principalmente pequenos poemas. Poemas. Vive. Sente-se em paz, na praia. Disse que viraria areia, agua, ar, o azul, apenas pra ser praia. Praia. Nao conheceu os pais, nem quer conhecê-los. Vive sozinho. Perguntei como conseguia, e ele respondeu que precisa viver. E viver pra quê?, novamente perguntei. Ansioso, preferiu nao falar. Permaneceu calado, o olhar vidrado nas ondas indo e vindo, até romper o silencio. E o senhor, sabe a resposta pra essa pergunta? O senhor vive pra quê? Tremi. Estava diante do espelho. Olhei fixamente pra mim mesmo crianca, dentro do espelho. Os olhos estavam fechados, de ambos. Olhei tanto, que fiquei com sono, até adormecer, exausto no meu proprio sonho. Cheguei em mim mesmo e encontrei um par de olhos verdes, ensolarados, reflexos da cor do mar e dos raios do sol. Eles olharam fixamente e, com um bisturi, abriram meu peito, quebrando as costelas. Retiraram meu coracao e meus pulmões. Continuei vivo e eles mastigaram ate engolir cada pedacinho das minhas entranhas. O menino encontrou os olhos e eu resolvi abraca-los com os labios.

O texto pode ser produto de uma experiência.
O texto pode ser produto da fantasia.
Um mesmo texto, produto de uma experiência,
pode servir a uma outra,
e representá-la em suas linhas precisas.
Afinal, uma experiência se funde à outra,
e nós nos definimos.

Um comentário:

Yan Venturin disse...

Puta que pariu Fred, muito muito muito bom mesmo. Cara fiquei sem palavras, esse poema já diz tudo, sem noção, muito bom mesmo. Nem sei o que dizer, deve ser a falta de expericencia hehehe .. Gostei muito mesmo, tá simplesmente, sensacional, simples mas que diz tudo.