26 abril 2010

Um monumento à Poesia

Uma nota de dois olhares sem

O tempo parou e o espaço ficou. Fixaram-se dois olhares no sonho. Antes, contudo, chegaram dois olhos calados. Estes viram disposição no outro, porque sensíveis ambos. Duas atitudes de alma. Duas.

Confiaram desconfiados pela presença dos dois, um no outro; o sentimento inconsciente que vinha preencher a ausência. Ausentes eram até o encontro. Era preciso.

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O silêncio que marca a respiração, o coração palpitante, o medo, o frio na barriga... Os olhares se buscam, se veem, de longe, desejam. O som sem voz produz o sorriso, a cor dos olhos, a perversidade, o cinismo, a ironia, a sinceridade. Querem estar, no tempo sem tempo, do espaço sem matéria, quando tudo é nada e se torna um absoluto.

Um tempo que fica e um espaço que marca. Os olhares desvendam-se na voz de longe, na madrugada, precisam do cheiro, do abraço, do toque, do outro. Imaginam, deliram, fantasiam, tem medo. Sem medo não se vai, permanece-se estático, aprisionado no tempo e espaço vulgares, porque aquele passa e este se define. Os olhares não têm pretensão, apenas sensação. Sentem como se o tempo de ver fosse maior do que as duas vidas que se encontraram.

Uma lágrima escorre do olhar. Triste pode estar, mas não, não é melancolia, está diante do olhar que fica duro quando cansado. E quanta beleza se vê no seio deste que enxerga até o mais recôndito mistério.


Um poema para a poesia

Você veio de mansinho
Calada como uma noite estrelada
Jogou-se no precipício sem perceber
E me deu as mãos
Pediu baixinho pra que fôssemos juntos
E eu me deixei voar

Estamos vagando pela vida
Como duas crianças encantadas pelo mundo
Descobrindo leves
Ávidos por cada novidade
Surpresos por tanta presença
Assustados pela veloz profundidade
Que só aumenta
Estamos nos tornando experientes
Ainda no berço do sem fim
Fizemos do medo dos mais velhos
Desejo

Do olhar para a poesia

Você me veio em forma de olhar
Mas vai ficar pela ideia
Com uma nomeação sublime:
Poesia.

2 comentários:

Carol da Matta disse...

Fred, que lindo... adorei. É um poema de amor àquela que o faz escrever. Será a própria poesia? Será a vida? Será? Quem?

Beijos!

Usnave disse...

Em meus sonhos de escritor, acordei no próprio sono, ao lado dela. Não tinha rima, não tinha métrica, nem precisava de ritmo; era a simples poesia, que se faz na melodia da fala, no som do tempo, no tom das horas, no sangue do agora, que é o quando-sempre do poeta.