21 setembro 2008

Sobre Machado - palhinhas leves

A invenção do blogger certamente fez Machado gritar como uma criança ao receber um simples presente dos pais. De plena interatividade, fácil acesso, e sem a dependência das editoras, o blogger se transformou na forma-modelo de contato entre os homens através da escrita. Jornais e livros? Que nada, meus caros alunos e amigos professores. Por isso, o comentário do Fabrício, inicialmente apenas um elogio, passou a ser uma contribuição, justamente o sonho machadiano da troca, do intercâmbio, em que texto e leitor se constroem mutuamente.

Assim, pessoal, nesse ano comemorativo, não da morte, mas da plena vida de Machado, independente das provas do vestibular, as discussões sobre o maior autor de língua portuguesa da história precisam ser levadas rio abaixo.

Muitos acreditam na existência de uma verdade, a suprema e perfeita verdade. Machado, por sua vez desarma o absolutismo, e estabelece a relativização dela, a partir do romance Dom Casmurro. Supercifiais são todas as análises que buscam a verdade sobre a traição, porque é justamente na ausência dela (verdade), que se situa o discurso Machadiano, discurso este, confirmado pela máxima Kantiana: "a verdade não está em si, está em mim". O Bruxo não pretendia narrar um adultério, como haviam feito Flaubert e Eça, mas sim trabalhar com a destruição das verdades inexpugnáveis que nos assolam até hoje, responsáveis por guerras e mortes. Se Capitu foi manipuladora, nós só criamos este mito, em função da voz do narrador do romance, Dom Casmurro, que resolve escrever quando velho e solitário. Então, o distanciamento temporal, associado ao ciúme neurótico do narrador, rascunham uma figura feminina perversa e destruidora. Não há uma verdade aparente, mas sim uma verdade pensada, e pensada por um indivíduo fundado nas razões da emoção. Sim, gritem, questionem, mas a razão é esta sim, por mais contraditória que nos pareça. Como diria a nossa Bossa Nova, "o coração tem razões que a própria razão desconhece". A relativização da verdade, que estaria nas mãos de cada indivíduo, é marcada pela emoção, o que constitui severa divergência em relação ao automatismo e presunçoso Realismo, escola que inviabiliza, para construção de qualquer narrativa, a subjetividade como meio, uma vez que o escritor seria o "cientista da palavra".

Machado, sempre machado, mais atual, e cada vez mais machadiano.
Voltarei com um post sobre Memórias Póstumas, em que Machado destrona a realidade como experiência vivida, e postula uma realidade ampla, que associa experiência, sonho, imaginação e memória.

Até a próxima e sem essa conversa de que Machado é chato, porque chato mesmo é ser óbvio e superficial. Vai, vai, não desconversa, leia!

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