16 setembro 2008

Somente uma sogra pra passar por isso

Uma maritaca não pode lutar contra sua própria condição de animal. Quer voar, não pode, está na gaiola. Quer cantar, não pode, a casa não permite. Deixam-na, sob uma condição: em horários regulares, quando todos estão fora, ou quando vem visita. Escrava? Não, nunca, ela é preguiçosa. Em seu canto tem paz, comida e silêncio (todos trabalham muito).

Costume. Ficava deitada, asas encolhidas, quieta, aproveitando a ausência completa de ruídos. Um prazer inconsciente, espontâneo. Um bicho, mas um bicho e tanto.

Todos acordavam cedo. Como sempre a maritaca estava deitada, ninguém se preocupava, era comum vê-la dormindo. Entretanto, acharam-na excessivamente cabisbaixa. Com os dedos, a mãe acariciou a bichinha... e nada. Preocupada, chamou a irmã, dona e metida a cuidar de animais.

Ainda do quintal, gritou pedindo para esperar, pegaria, antes, os seus utensílios para tratar a sua prendada ave. Depois de alguns minutos, entra Aparecida, armada com comprimidos, termômetro, estetoscópio, gases, esparadrapo, e muito bom humor e pose.
Filme de terror desqualificado que se torna comédia trash de sábado à noite.

A gaiola estava num canto da área. Cida chegou com cuidado, chamando a bichinha (como todos a adoravam, nem nome tinha). Sem resposta. Objetiva, e nunca passional, levantou a asa dela e mediu a temperatura com o termômetro. Passados os minutos necessários, olhou a medida, franziu a testa, coçou a cabeça e concluiu: temperatura alta. Preciso baixá-la. Buscou na caixa-tem-tudo uma solução: pronto, perfeito. Um comprimido branco. Retirou a maritaca da gaiola, sem muito cuidado, apressada, abriu-lhe a boca e tentou depositar o remédio. Relutando, a ave travava a garganta para evitar ser sufocada. Sem êxito na empreitada, Cida apertou-lhe o pescoço e empurrou à força o comprimido quase até o estômago da bichinha. Ufa, foi difícil, mas salvei minha predileta.

No dia seguinte, logo cedo, a Mãe, por curiosidade, foi checar a maritaca. A bichinha estava dura feito pedra, um espantalho de ave.

Dá-lhe paracetamol, eita genérico bom!

2 comentários:

R.L. disse...

Cara, muito bom mesmo!

Aline disse...

Já conheço essa história, hein?!