Uma maritaca não pode lutar contra sua própria condição de animal. Quer voar, não pode, está na gaiola. Quer cantar, não pode, a casa não permite. Deixam-na, sob uma condição: em horários regulares, quando todos estão fora, ou quando vem visita. Escrava? Não, nunca, ela é preguiçosa. Em seu canto tem paz, comida e silêncio (todos trabalham muito).
Costume. Ficava deitada, asas encolhidas, quieta, aproveitando a ausência completa de ruídos. Um prazer inconsciente, espontâneo. Um bicho, mas um bicho e tanto.
Todos acordavam cedo. Como sempre a maritaca estava deitada, ninguém se preocupava, era comum vê-la dormindo. Entretanto, acharam-na excessivamente cabisbaixa. Com os dedos, a mãe acariciou a bichinha... e nada. Preocupada, chamou a irmã, dona e metida a cuidar de animais.
Ainda do quintal, gritou pedindo para esperar, pegaria, antes, os seus utensílios para tratar a sua prendada ave. Depois de alguns minutos, entra Aparecida, armada com comprimidos, termômetro, estetoscópio, gases, esparadrapo, e muito bom humor e pose.
Filme de terror desqualificado que se torna comédia trash de sábado à noite.
A gaiola estava num canto da área. Cida chegou com cuidado, chamando a bichinha (como todos a adoravam, nem nome tinha). Sem resposta. Objetiva, e nunca passional, levantou a asa dela e mediu a temperatura com o termômetro. Passados os minutos necessários, olhou a medida, franziu a testa, coçou a cabeça e concluiu: temperatura alta. Preciso baixá-la. Buscou na caixa-tem-tudo uma solução: pronto, perfeito. Um comprimido branco. Retirou a maritaca da gaiola, sem muito cuidado, apressada, abriu-lhe a boca e tentou depositar o remédio. Relutando, a ave travava a garganta para evitar ser sufocada. Sem êxito na empreitada, Cida apertou-lhe o pescoço e empurrou à força o comprimido quase até o estômago da bichinha. Ufa, foi difícil, mas salvei minha predileta.
No dia seguinte, logo cedo, a Mãe, por curiosidade, foi checar a maritaca. A bichinha estava dura feito pedra, um espantalho de ave.
Dá-lhe paracetamol, eita genérico bom!
2 comentários:
Cara, muito bom mesmo!
Já conheço essa história, hein?!
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